sexta-feira, 29 de junho de 2007

MULHER



em construção



Mulheres





































Que mulher nunca teve
Um sutiã meio furado,

Um tio meio tarado
Ou um amigo meio viado?

Que mulher nunca temeu
Uma consulta dentária,
Passar atestado de otária
Ou a incontinencia urinária?

Que mulher nunca tomou
Um fora de querer sumir,
Um porre de cair;
Ou um lexotan pra dormir ?

Que mulher nunca sonhou
Com o marido da melhor amiga,
Com a sogra morta, estendida
Ou com uma lipo na barriga ?

Que mulher nunca pensou
Em zunir uma panela,
Jogar os filhos pela janela
Ou que a culpa era toda dela ?








Que mulher nunca penou
Pra ter a perna depilada,
Pra aturar uma empregada
Ou pra trabalhar menstruada ?
Que mulher nunca acordou
Com um desconhecido ao lado,
Com o cabelo desgrenhado
Ou com o travesseiro babado ?

Que mulher nunca comeu
Uma caixa de Bis, por ansiedade,
Uma alface, no almoço, por vaidade
Ou, um canalha por saudade ?

Que mulher nunca apertou
O pé no sapato pra caber,
A barriga pra emagrecer
Ou um fininho pra enlouquecer ?

Que mulher nunca jurou
Que não estava ao telefone,
Que nem pensa em silicone
Ou que "dele" não lembra nem o nome ?




TAPA DE HUMOR NAO DÓI,

(de um grupo formado por cinco mulheres)










Os versos que te fiz

Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.
Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!
Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz!
Amo-te tanto! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!

Florbela Espanca

































































Fala baixo, podem escutar,

Geme e xinga baixinho,






















Pra não acordar o vizinho.




Cuidado, a cama está rangendo.




Vai correr amanhã o boato




Que tu praticaste um acto




Eivado de desacato
















À moralidade e ao Direito,




Aos bons costumes e ao respeito.




E a vizinha, com inveja

Da tua simples liberdade

Que ela não consegue ter,




Vai espalhar no condominio




Que és um ser sem dominio,
Predestinada a morrer,
Que és uma gata perdida
Por certo ganhas a vida,
Vendendo aos homens prazer,
Não vai ela entender nunca,
No vai e vem da sua vida.




Que a sua vida não é vida,

É obrigação de ser




Qualificada de esposa,

E neste estado ela não ousa




Amar e sentir prazer




Pois, pela Religião,




Prazer é coisa do Ceu,




Uma coisa pra não se ter,

Prazer é pecado mortal,

O prazer fere a moral,

E as virtudes do "Alto Ser".

A pobre vizinha escuta




Todos os dias no rádio




Que sentir prazer é p puta,




Que esposa é mulher "Fria"? que sustenta




Sua vida e de seus rebentos,




Por certo não advem




de estar na disposição




De um homem que a sustem.




O sistema incutiu nela







Que a que está à disposição




De um ser pelo seu tostão




Tem o "status" de esposa,




Não se iguala à mariposa,




Que troca o parceiro João





Pelo José? ou o Romeu,
Desde que lhe pague o pão.
Aprende, vizinha amiga,
Que a tua condição é a mesma,




Tendo até mais privilégio

A outra que está na zona,




Pois esta não tem quem tome




Dela satisfação,




Trabalha o dia que quer,




Ela é bem mais mulher




Na sua situação,




Que uma "esposa" qualquer




Debaixo de repressão.




Mulher companheira, amiga,




O que é o Casamento,




Se não ver teu sentimento




Menosprezado até o ponto




De transformá-lo em documento




Com efeito de sacramento?




Atenta pra encenação




desta imbecil instituição,




Que te põe na posição




De prostituta em acção,




Porém, como já falamos,




Em condições bem piores




Por não teres opção




De entregar teu sentimento




Pra quem ditar teu coração.




Este é o jogo do Sistema




No papel que dá à mulher,Ou ela ?




Puta de Arena





Soneto da Separação






De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente

Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante

Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.


Vinicius de Moraes




sábado, 16 de junho de 2007

S. João no Porto

S. João p'ra namorar

Fez uma fonte de prata;
As moças não vão a ela
S. João todo se mata.






Leve no ar flutua
Doce cheiro a manjerico
É S. João na rua
Convidando ao bailarico.

Às flores da Primavera
Vem logo o calor do Verão,
A seguir ao S. António
Vem sempre o S. João.

Já fiz à espera do sim
Promessas a São João,
P'ra que ao passares por mim
Tires os olhos do chão.

Ò meu rico São João
Relíquia do velho Porto,
Ando louco de paixão...
Dá-me um pouco de conforto!

Fiz um altar de algodão
Com muito amor e carinho,
Para albergar São João
Junto com seu borreguinho.

O meu amor foi-se embora,
Como sofre o coração!
- Não sei que fazer agora,
Ajudai-me S. João.

Anda daí ó trigueira,
Olhos negros de carvão,
Vamos saltar a fogueira
É noite de São João!

Se há uma noite de grandes festejos no Porto, é de certeza a de 23 para 24 de Junho.



cascata de São João

Segundo o Historiador Hélder Pacheco, as primeiras cascatas no Porto aparecem no século XIX. “o pai e a mãe das cascatas foram os presépios, que surgiram em Portugal nos finais do século XVIII”. “Antigamente”, explica o historiador, “pegava-se num presépio, substituia-se a sagrada família e os reis magos pelos santos populares e tínhamos uma cascata”.

O Porto em si é uma cascata

No altar do S. João
Nasceu uma cerejeira...
Quem seria o bem-ditoso
Que lhe comeu a primeira?...

Dois séculos depois, a tradição mantém-se. As cascatas, o alho-porro, o manjerico, o martelo e a sardinha assada, fazem parte das festas de S. João.
O dia 24 de Junho data de nascimento de São João Baptista, santo padroeiro de muitas terras é festejado na cidade do Porto mais do que em qualquer outro lugar.
No S. João a festa de puro cariz popular dura toda uma noite, com uma cidade inteira na rua, em alegre e fraterno convívio.
A farra começa com uma boa sardinahada e um caldo verde. Os balões feitos em papel colorido passeiam no ar, há um cheiro caractetístico impregnando as ruas, mistura de gente, manjerico e erva cidreira e fogo de artifício ilumina a noitada.

Como tenho saudades dessa época.
Estavamos na década de 60, saíamos de casa por volta das sete da tarde, eu o meu irmão que é dois anos mais velho e uma empregada para nos acompanhar - a Custódia. O ponto de encontro com o restante grupo era em Antero de Quental em frente à papelaria Torres, não sei se ainda existe. Aí o restante grupo juntava-se a nós, tudo colegas do liceu, a Custódia juntava-se ao namorado e lá íamos cada um para seu lado combinando as horas a que estaríamos de novo naquele local para regressarmos a casa.

Aspecto das ruas do Porto em noite de São João

Ó amor dá-me os teus braços
Qu'eu dou-te o meu coração;
Ando preso(a) por abraços
nas Fogueiras do S. João

Começavamos na Ribeira, para depois do Fogo de Artifício, todos os anos à meia-noite em ponto, corrermos os quatro cantos da cidade e só terminar ao nascer do sol.
As rusgas de São João espalham-se de bairro em bairro, de freguesia em freguesia.Nas ruas da baixa, que registavam invulgares enchentes de povo, vendiam-se ervas santas e plantas aromáticas com evidente predominância do manjerico, a planta símbolo por excelência desta festa; o alho-porro, os cravos e a erva-cidreira.

Paravamos nos bailaricos de bairro, saltavamos as fogueiras, petiscavamos nas tasquinhas que se espalhavam pela cidade! Viamos as Cascatas S. Joaninas que tinham a imagem do Santo num altar com o seu inseparável carneirinho e um sem fim de elementos coloridos que simbolizavam o arraial, as freguesias e bairros disputavam as cascatas entre si num concurso de beleza e homenagem
Cansados terminavamos com um banho de mar na Foz!
Ao chegar a casa muito depois do nascer do sol, já sentíamos o cheirinho do cabrito a assar com batatinhas louras e arroz de forno que era invariávelmento o almoço do dia de São Jão.







S. João adormeceu
Debaixo da laranjeira,
Cobriu-se todo de flores,
S. João que bem que cheira.

Na noite de S.João
Vou fazer uma fogueira
Com folhas de verde louro
Com rosmaninho que cheira.

Hei-de deixar ao relento
Uma folha de figueira
Se S. João a orvalhar
Hei-de encontrar quem me queira.

-Donde vindes S.João
pela calma, sem chapéu?
-Venho ver as fogueiras
que se fizeram no céu!

-S.João, donde vindes,
que vindes tão orvalhado?
-Venho de regar as flores
daquele jardim sagrado.

S.João perdeu a capa
no caminho do estudo;
juntem-se as moças todas
comprem-lhe uma de veludo!

«Se queres comigo bailar
Menina, fá-lo com jeito,
Eu não quero amarrotar
Os balões que tens no peito!»